Dona de casa

Ela chegou mais cedo do trabalho naquela quinta feira, queria fazer do final do seu dia algo diferente. Apesar do cansaço de ter trabalhado seis horas naquele infernal escritório, chegou enfim no seu doce lar. A casa tava bagunçada: a pia cheia de pratos, algumas roupas jogadas no chão e o maldito lixo que tinha que ser tirado de lá. Ao ver o caótico mundo aos seus olhos, decidiu por um cd para descontrair. Foi a escolha do cd. Escolhas pra ela sempre foram difíceis. Seu ascendente libra tinha uma grande participação nisso. Sempre achava que ao escolher um caminho, estava perdendo outro tão interessante como o escolhido... Mas depois de alguns minutos, decidiu por algo leve e romântico. Ela andava suspirando ultimamente... Não que tivesse algo ou alguém por ela suspirar, ela apenas começou a suspirar pelo mundo. Tão deliciosamente boba... A moça adorava cantar e dançar enquanto arrumava a casa, aquilo parecia que distraia as tão temidas obrigações, sabe? E ao som dos agudos que ela sempre desafinava, foi transformando a sua confusão em uma certeza maravilhosa! A espera em algo suave, os medos em sonhos bons. E foi arrumando a casa, limpando os cantos esquecidos. Colocando tudo no seu devido lugar: esperanças, desejos, entregas! Mas quando tudo parecia estar pronto, um vento forte invadiu a casa e derramou o suco de beterraba que ela bebia em todo chão. Lá estava a casa toda melecada de novo! Fazer o quê ? Coisas da vida! Escolheu outro cd, pegou o esfregão e voltou a limpar delicadamente...