Um Brinde
A mim que passei uma vida inteira 
vivendo de fachada, 
fazendo besteira, 
sem fazer a barba. 
Bebendo cerveja, 
todo dia, qualquer dia 
tocando batucada, 
fingindo ser solteiro, 
em qualquer, eventual, generosa madrugada. 
A mim que passei achando a vida engraçada 
fruto de uma trepada desgostosa,
desengonçada 
de puta que pariu. 
A mim e a morte gozada 
a quem eu fingi 
não era nada 
e ainda bem mendingava afeto 
feito cachorro de praça. 
A mim que tomei banho de arruda 
pelo coração que palpitava dessassossego 
de ser ateu pregando a salvação através do pecado 
comendo o cú de viado na estação rodoviária. 
A mim que estragulei a vida fazendo chantagem 
achando que ter um carro era chic, 
uma vantagem 
e dei umazinha em pé 
falando sacanagem 
para o maluco que prometeu-me vida de rainha 
e o bendito carro na garagem 
esperto ele, que roubou-me a putaria, 
a maladragem. 
A mim que roubou-lhes a experiência 
a história,
a malidicência 
sem o nojo,
sem a discrença de que a vida vai melhorar.
 
 

3 comentários:
Caramba, vc ta inibindo as outras participantes...que coisa linda!
Magina tá todo mundo brindando e bebendo por aqui
Somos as embreagadas das palavras..
Sim, embreagadas com muito gosto!
O texto é sublime! Adorei!
beijinhos
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