rapunzel

aqui de cima do meu castelo de onde a vista á linda, aonde a comida é maravilhosa, aodne o vento bate forte balançando as minhas madeixas... eu não durmo.

é tudo lindo, é tudo novo, é tudo emocionante, é tudo transformador.

mas a farmácia não me alcança e os meus remédios acabaram.
a minha coca-cola acabou e ninguém consegue me trazer outra.
a minha roupa descosturou mas a minha máquina de costura está sem linhas e agulhas. ninguém me alcança aqui. parece que eu estou assim tão alta que às vezes se ouve um barulho daqueles que incomoda e ninguém sabe de onde vem. como aquela dor de cabeça que não vai nunca. às vezes podem me ver. e quando eu sacudo os braços, os espectadores abanam e pensam: aquela chata de novo dando tchau lá do troninho.

eu chorei. eu deixei que as minhas lágrimas caíssem aqui de cima. mas elas secaram no caminho pro chão. Pensei que eu pudesse plantar uma árvore que me levasse lá pra baixo, mas como diria a minha avó. parece que as plantas já são tristes naturalmente. que o meu papel é conversar com elas e trazer alguma alegria.
acho que mesmo que as minhas lágrimas tocassem o chão a minha árvore não nasceria.

e os meus cabelos? eu joguei, fio por fio, ao vento.
estou esperando nascer mais.