Roubei seu ar
O ar parado. Sempre o mesmo ar parado. Nem um ventinho havia para refrescar ou para ajudar a tirar a poeira do lugar. Parado. Foi assim por anos. Eu via o vento passando pelas pessoas. Via como ele levantava poeiras e velharias daquelas pessoas! Mas o meu lugar, no meu lugar, era tudo parado, ha anos.
No dia em que eu vi você, eu fiquei encantada com o vento que te seguia. Você carregava um vento tão gostoso. Me pus ao seu lado para ver se o seu vento levantava alguns dos meus fios de cabelo, me dando o prazer do frescor. Mas o seu vento levantou a minha saia, e eu me afastei rapidamente, rindo e inibida.
Quando olhei para os meus sapatinhos roxos, não havia mais poeira encima deles. Te agradeci tanto... em silêncio. Covardia, confesso. Mas não soube como nem o que dizer. Então de longe você me viu. Invejou a minha brisa, sem saber que eu a tinha roubado de você, que antes de você tudo era estático. E assim, sem perceber, você desejou que a minha brisa abrandasse o seu vendaval. Esse mesmo que arrancava tudo pela raiz e não deixava nada ficar, nem dores, nem amores. Você se pôs ao meu lado e encostou em mim (eu senti). Seu sapato marrom ao lado do meu sapatinho roxo. E que vento delicioso nós formamos...
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