Bambolê
Há uma caixinha cheia de objetos, fechada, há tempos recomendaria um diário, hoje em dia isso é piegas. Ela chega, senta no tapete vermelho, e seu olhar e sua fala, estão direcionadas a sua pequena caixinha.
Desespera-se, abre-a e fecha com um certo desdém. O faz repetidamente. Questiona o passar do tempo, e quando menciono o horário fica ainda mais desesperada. Quer mexer, fuçar, guardar coisas.
Resolve sentar sob minha poltrona, usar o meu espelho, e sabe como usar, e como fazer, sua caixa continua intacta e vazia. Fico furiosa com isso.
Ela descobre um bambolê velho, verde, jogado no canto da sala, oferece-me como se não fosse meu, ambas não sabemos como usá-lo. Rebolamos para lá, e para cá, e o objeto caí no chão.
Descobrimos como é fácil rodopiá-lo sob nossos pescoços, sob nossos pulsos e tornozelos e assim eu já ia me contentando, e não estava mais furiosa.
Mas ela, ao fim de seu tempo, exige mais, que tal objeto, que não cabe na sua caixinha, por hora nem na minha, rebole sob nossas cinturas.
E rebola pra cá e para lá, e não desiste, deixando-o cair, e mesmo não conseguindo, olha nos meus olhos, como olhará amanhã, quando não tiver com o bambolê na cintura.

2 comentários:
Eu quero aprender bambolê...nunca soube... me ensina?
Gostei Ana! Consigo imaginar direitinho uma mulher, nos seus 36 anos (+ou-) revelando sua criança escodida!
Gostei de tudo nessa sua poesia, consegui imaginar a situação, o local, vejo até uma cortina bonita e uma brisa batendo nela! hahaha Tá achando que eu endoidei de vez né? hahaha
Bjks
Postar um comentário