A onda de um certo Carnaval...
Hoje eu acordei triste, com aquele vazio de costume e a certeza que tenho que voltar para a ela. Esses dias foram cercados de fugas. Fugi de mim, da dor, das coisas que me machucam...De pensar na espera. Mas hoje aceitei o risco e vim. É o primeiro dia que consegui ficar sozinha aqui, parada. Peguei meu guarda sol, a kanga e minha espera. Tem algum tempo que estou aqui. É bom ficar assim: limpa, renovada, a procura de coisas novas. Estou na beira da praia escrevendo. Sendo abraçada pelos barulhos das ondas leves, solitárias, individuais. É bonito ver a praia assim: calma! O Rio no seu estado normal, sem aqueles hormônios libidinosos dos turistas. Sentir o cheiro da suavidade depois do furacão... Depois de tanta fuga necessária... Pulei esse carnaval com a minha velha procura. Cada bloco, uma busca. Mas a mesma espera. Já no primeiro dia, escolhi um nome e um rosto... Tivemos uma noite de entregas! Depois, já na quarta feira de cinzas, o encontrei, rapidamente, dando tempo apenas de um beijo escondido. Um beijo sussurrado... Ai, ele foi abduzido depois. Lembro do ultimo momento, da desculpa por ter que ir embora rapidamente, do olhar de despedida. Ele se foi, eu fiquei aqui, esperando... Fingindo que não preciso mais procurar. Só para não ficar nessa ânsia eterna... Dói tanto saber que não é... Preciso esperar a próxima onda. O mar está calmo hoje, como a areia. A cidade respira e sopra no meu ouvido a esperança de uma certa estabilidade. As ondas não batem na areia como ontem, elas beijam suavemente. È bonito de ver o Rio calmo. Acordei suave. Desde das cinzas, eu espero as palavras dele. O timbre da sua voz que aconchega a minha busca, tornando tudo mais leve... São dias de espera. Esses são permeados por uma esperança cega, por uma busca eterna de um encontro comigo. Mas eu sei que ele não vem, que o meu telefone não vai tocar e que ele deve estar ocupado com a sua outra vida. Não queria que ele tivesse tomado banho depois daquela noite... Que tivesse deixado se limpar, esquecer. Queria uma possibilidade mínima de ilusão. Queria me guardar dentro de uma bolha. Ele deve ter sido abduzido... Agora vou ter que voltar para a minha incansável busca! A minha felicidade na felicidade do outro... Ridículo isso. Muito ridículo. Clichê. Há dias esperando um sopro, um olhar, uma tentativa de contato humano. Eu parada. Esperando. Só há uma lembrança tola comigo: De que isso tudo podia ser uma futura ilusão que me acalmaria. Ele não veio. Não falou. É, com certeza foi abduzido para um planeta distante ! Sabe, esperar sem esperança dá vontade de desistir... Mas amanhã eu vou embora. Eu paro de esperar por ele, eu esqueço... Eu volto a olhar para dentro... Volto a seguir sozinha... Sozinha não! Com a minha... Seria lindo, seria mágico, lírico e renderia 1000 poemas. Tudo que eu precisava de um carnaval ! Mas não foi. Não era pra ser. O sol tá quente, escaldante. Quero cair na água, deixar o corpo solto a espera de ondas novas... Cada mergulho, eu limpo uma dor. É como eu tivesse que me purificar. Quero cair na água. Corro para o mar. Queria fugir de tudo aqui no Rio. Engraçado, a espera dorme comigo. Muda de roupa, mas dorme comigo. Não importa o nome, o rosto, o cheiro. São todos disfarces da mesma espera. Já é tarde. As águas vieram me visitar.
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