Esse é um lugar muito especial. Uma casa muito engraçada, divertida e livre. Em que as paredes são feitas de letras, sonhos, alegrias e dores. Somos 4 mulheres inventando novas formas de expressão. E utilizando velhas também, por que não? Seja bem - vindo!

segunda-feira, setembro 17, 2007

Mãe


Cheguei a essa conclusão mais uma vez na vida, então não tinha como deixar de registrar. Isso mesmo, eu odeio a minha mãe.

Esses dias estava dando um Workshop, e como é de se esperar, com a espiritualidade muito em voga, louvoures frenéticos são cantados a todos os gostos assim que os sentimentos se afloram.

Cheguei em casa contaminada. Cantava bem alto, e dizia amém. Sim era do fundo do coração, assim do meu jeito.

Para minha mãe minha alegria era pecado. Muito louco, porque na medida em que eu agradecia qualquer coisa do meu dia dizendo bem alto, deus é o senhor, amém. Ela me castrava. Aprendera que com Deus não se brinca. Até entendi: moral católica, repressão, essas coisas...

Mas esses dias têm sido o cão. Costumo ficar irritada quando ela saí correndo para atender a todas as necessidades do meu pai, por café na mesa, essas coisas que as mulheres eram obrigadas a fazer.

Ontem mesmo estava quase morrendo de bronquite, teimosa do jeito que é, saracotiou pelos quatro cantos do mundo, incluíndo banca de jornal aonde costuma comprar seu inseparável maço de cigarros. Hoje, estava bem pior. Mas, meu pai, muito do esperto deu-lhe uma baita bronca e mandou-a ficar de repouso.

Assim que cheguei gritou do seu quarto me chamando, queria que eu lhe preparasse a inalação. Fez questão de dizer que precisava repousar. Disse isso pousuda, quase prepotente. E eu respirei, pois ontem essa frase era para mim quase que missionária, embora ela nem tenha dado bola, principalmente depois de levá-la ao hospital e quase morrer de susto com a possibilidade de um Câncer no pulmão com a forma com que ela tossia.

Tossiu tanto que doía, e insistia que era um farelo de bolacha que ficara enroscado na parede da garganta. Há de ter muita paciência.

Corria de um lado para o outro. Decidi que devia fazer pó de chinelo. E pedia insistentemente para que ela me acompanhasse. Quanto mais ela andava de um lado para outro dentro de casa, mas eu intensificava os pedidos de acompanhamento aos meus rídiculos exercícios. A intenção era de que ela percebesse o quão inadequado era suas peregrinações enquanto um gato chiava dentro do seu pulmão.

Uma vez que inventei a brincadeira, ela, ficou para lá de animadinha. Achou que eu estava paparicando-a, e de fato eu estava. Virou um leão dando ordens. Queria mais atenção, penso eu, mas acho que não sabe muito bem como fazê-lo.

E eu cheia de trabalho para fazer querendo ser cuidada mais uma vez me frustro, percebendo minha irritação ela, que não perde uma, costuma perguntar quando vou casar, ou morar fora. Ela sabe que não tenho condições de fazê-lo agora. Isso me deixa ainda mais impotente, mesmo sabendo que ela vai chorar o Rio Amazonas em lágrimas quando acontecer efetivamente. Vide minha viagem de 15 anos, aonde ela alagou o aeroporto de Guarulhos pela ausência de 20 dias, ai, como faço questão de lembrá-la.

Por que não fico quieta, hein? Talvez por que eu a amo?

Ah, não, Mãe mesmo, eu amo aquela que eu imagino que tenho, porque essa que tenho em casa..

3 comentários:

Anônimo disse...

Demais esse texto...realmente as coisas nunca mudam! Paciencia é o melhor remédio, já dizia o Renato Russo "Você culpa seus pais por tudo
E isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?"

Ana Paula Lima disse...

Pelo menos a arte nos dá uma alternativa ;)
Um abraço

Ana Paula Lima disse...

Pelo menos a arte nos dá uma alternativa ;)
Um abraço