Esse é um lugar muito especial. Uma casa muito engraçada, divertida e livre. Em que as paredes são feitas de letras, sonhos, alegrias e dores. Somos 4 mulheres inventando novas formas de expressão. E utilizando velhas também, por que não? Seja bem - vindo!

segunda-feira, setembro 03, 2007

Ás vezes é cinza.

Antes o meu vazio vinha assim de repente. Ele chegava, instalava-se e eu não entendia.
Só algumas coisas arrancavam-me dele, o quentinho da minha cama, um bom doce de chocolate, escrever sem pé nem cabeça, e caminhar por aí.
Esse vazio é um sentimento estranho, um aperto na garganta, um frio constante, um pessimismo, um descrédito na vida, nas pessoas.
Na semana passado ele veio me visitar. Estava cansada. Assim que ele chegou comecei a reconhecê-lo.
Foi difícil levantar da cama, ser simpática e pentear os cabelos. O doce da sobremesa não fora se quer registrado.
Aonde eu estava era o melhor lugar para ficar, só para não ter de ir embora.
No ponto de ônibus observava as pessoas, achava-as feias, sofridas. Era o meu feio se conectando com o feio do mundo.
Sentei num buteco, pedi um café, veio com açucar eu nem reclamei.
Fazia poesia com a pobreza e com a sujeira, e sentada no chão sentia-me mais perto do lixo.
Meus sapatos dourados brilhavam e nada condiziam com o vazio, e com o meu redomado redor.
Assim que escrevi o primeiro verso o vazio tornou-se belo, e havia sido transformado, em palavras assim meio sem sentido, produzidas por mim.
Produzir é algo estritamente importante, até mesmos nos vazios. Faz qualquer um sentir-se ligado ao funcionamento do sistema.
Algumas lágrimas escorreram dos meus olhos, os comerciantes a minha volta estenderam seu olhar ao chão, e eu ali, sinalizei que estava bem com um simples movimento da cabeça.
Meu ônibus chegou, eu subi, estava lotado, sem lugar para sentar. Minhas pernas estavam fracas, a mala das minhas costas pesada, mas eu tinha que continuar ali, chegar em casa e começar tudo de novo.
Queria acreditar que tudo aquilo fazia parte de algo maior, mas a imensidão da cidade me deixava desolada, e quanto maior era minha percepção do todo, mas cinza em via dentro de todas as cores.
Muito dramático,sim, também acho, existencial, mas integrar em mim esse destilado da vida, hoje, e só por hoje, me faz mais inteira.
Cheguei em casa, tomei um banho, descansei.
Acho que tenho cuidado do meu vazio, identificando quando ele vem, e como pode ir embora. Ligar-me ao agora, sentir minhas pernas fracas sobre chão tem me ajudado.
Costumo projetar no futuro um lugar perfeito para remediar a minha sujeira, isso não faz bem.
Tendo a querer destruir tudo achando que o recomeço é uma possibilidade de sentir-me diferente. Bobagem.
Ás vezes invisto em uma só possibilidade o preenchimento de mim mesma, outra bobagem.
Dar-se conta disso, complexifica tudo, embora deixa tudo mais leve, e livre.

3 comentários:

Salve Jorge disse...

Cinza
Cinzas
Finjas
E continuam sendo cinzas
Dos carvões queimados
Dos dias esperados
Dos sapatos apertados
Ou até dos descansos desavisados
Cinzas
Restos
Resíduos descoloridos
Consumidos
Remanescências do vivido
Entulho reunido
Coisas de tempo ido
E desesperança com o que virá
Com o acumulo que se dará
Cinzas
Sim
Mas minhas...

Anônimo disse...

Verdadeiro, sensível e Intenso.
Para Sempre.

Ana Paula Lima disse...

ai as Cinzas, para que te quero.. rs